Escravos do Mundo Livre

Esteta ou Asceta? Nada disso, no fundo: Divagações de um pateta...

domingo, 5 de novembro de 2006

A Liberdade

Sinto que a Lua não gostou. Preciso diminuir meus arroubos poéticos ou melhora-los de verdade. Mas mudemos de assunto por hora...

Eu poderia falar sobre a mudança (a geográfica, que me arrancará de minha terra natal, ou da interna, que se processa no meu cérebro) e toda expectativa que ela causa, sobre a música que a Céu ta cantando agora aqui pra mim, ou sobre o meu amor pelos derivados do leite. No entanto, convidarei minha amiga Marilena Chaui pra falar sobre a Liberdade. Retirei de seu livro Convite à Filosofia, que to acabando de ler. Tem me gerado boas reflexões que agora compartilho com as milhares de pessoas que lêem esse hediondo folhetim.

A liberdade como problema

A torneira seca
(mas pior: a falta
de sede)
A luz apagada
(mas pior: o gosto
do escuro)
A porta fechada
(mas pior: a chave
por dentro).


Se nascemos numa sociedade que nos ensina certos valores morais - justiça, igualdade, veracidade, generosidade, coragem, amizade, direito à felicidade - e, no entanto, impede a concretização deles porque está organizada e estruturada de modo a impedi-los, o reconhecimento da contradição entre o ideal e a realidade é o primeiro momento da liberdade e da vida ética como recusa da violência. O segundo momento é a busca das brechas pelas quais possa passar o possível, isto é, uma outra sociedade que concretize no real aquilo que a nossa propõe no ideal.

Eis por que o poeta José Paulo Paes introduz o "mas o pior" em seu poema. De fato, a torneira está seca, mas o pior é não ter sede, isto é, não agir para que a água possa correr pela torneira. De fato, a luz está apagada, mas o pior é gostar do escuro, isto é, não agir para que a luz possa acender-se. De fato, a porta está trancada, mas o pior é saber que a chave está do lado de dentro e nada fazer para girá-la. O mundo já está constituído, escreve Merleau-Ponty – a torneira está seca, a luz apagada e a porta fechada. Porém, o mundo, prossegue o filósofo, não está completamente constituído, não está pronto e acabado, mas, como escreve Carlos Drummond, "o grande mundo está crescendo todo dia" pelo fogo e amor dos seres humanos e o pior seria renunciar a ele por estarmos nele.

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A verdade dói, mas quem sabe eu ñ sou masoquista? Diz aí:

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