Escravos do Mundo Livre

Esteta ou Asceta? Nada disso, no fundo: Divagações de um pateta...

quarta-feira, 17 de janeiro de 2007

Colírios de Leminski

eu ontem tive a impressão
que deus quis falar comigo
não lhe dei ouvidos

quem sou eu pra falar com deus?
ele que cuide dos seus assuntos
eu cuido dos meus



Razão de ser

Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso,
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece,
E as estrelas lá no céu
Lembram letras no papel,
Quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?



Atraso Pontual

Ontens e hojes, amores e ódio,
adianta consultar o relogio?
Nada poderia ter sido feito,
a não ser o tempo em que foi lógico.
Ninguém nunca chegou atrasado.
Bençãos e desgraças
vem sempre no horário.
Tudo o mais é plágio.
Acaso é este encontro
entre tempo e espaço
mais do que um sonho que eu conto
ou mais um poema que faço?



Ai daqueles
que se amaram sem nenhuma briga
aqueles que deixaram
que a mágoa nova
virasse a chaga antiga
ai daqueles que se amaram
sem saber que amar é pão feito em casa
e que a pedra só não voa
porque não quer
não porque não tem asa



Adeus, coisas que nunca tive,
dívidas externas, vaidades terrenas,
lupas de detetives, adeus.
Adeus, plenitudes inesperadas,
sustos, ímpetos e espetáculos, adeus.
Adeus, que lá se vão meus ais.
Um dia, quem sabe, sejam seus,
como um dia foram dos meus pais.
Adeus, mamãe, adeus, papai, adeus,
adeus, meus filhos, quem sabe um dia
todos os filhos serão meus.
Adeus, mundo cruel, fábula de papel,
sopro de vento, torre de babel,
adeus, coisas ao léu, adeus.



Poesia: 1970


Tudo o que eu faço
Alguém em mim que eu desprezo
Sempre acha o máximo.

Mal rabisco
Não dá prá mudar nada.
Já é um clássico

quarta-feira, 3 de janeiro de 2007

Chico e Shivas

Ouvindo: Tim Maia, Moska e Karnak

E a chuva ñ para, acho q já caiu toda água q havia, ñ sei de onde tá vindo mais. Deve ser a descarga de Deus – nem é preciso dizer o q nós somos se aqui é a privada dele... Chove há uns 5 dias sem parar, as pessoas já estão até mofando pela alta umidade! E eu aqui, de recesso, nem botando os cornos do lado de fora. Tenho q combater o tédio com todas as minhas forças, mas aí, bate logo uma preguiça e faço uma coisa q ñ tenho o hábito: cochilar! Férias sem grana e com chuva é uma coisa problemática. Então passeando com o mouse de bobeira pelo Pczinho achei isso aí. Nem lembrava mais! A data é uma segunda-feira, precisamente 27 de fevereiro de 2006. O domingo deve ter sido bom...


O Camarão e o Vento

O barulho era constante. As pás do ventilador giravam produzindo vento e som. Deitado na cama ele pensava na poeira invisível que devia estar circulando pelo quarto. Do seu lado, de olhos fechados, ela sentia o vento roubando o calor de seu corpo, boa sensação. O mundo era mesmo um lugar incrível, pensavam cada um à sua maneira. Quantas coisas podiam ser ditas e o silêncio falava por eles, explicava tudo serenamente.
Uma olhada ao redor e uma vida deitada ao seu lado, nua. Era simples, pensava. Tudo no mundo era simples naquele momento. As coisas imóveis, ela imóvel, só o vento e a poeira escapavam da ordem.
Ela abriu os olhos e virou-se para ele. Ele retribuiu o olhar - silêncio.

Sabe o que eu queria agora? Disse ela.

O quê?

Camarão. É, camarão com limão e maionese.

Eu queria ouvir Chico com uma dose de Shivas.

Você não acha que supervaloriza ele?

Mas ele é a sensibilidade que me desnorteia a alma.

Estou falando do uísque.

Ele: Eu também.

Risos no vento...

Inventos pra semana: um jogador de xadrez q ñ o computador, ouvinte de boa música e que ñ me vença muito...

terça-feira, 2 de janeiro de 2007

Ah... Todo ano tem Ano Novo

Tá frio e está chovendo há uns três dias sem parar. Eu podia citar Lobão e dizer que "Eu tô chovendo muito mais do que lá fora. Lá fora é só água caindo. Enquanto aqui dentro, cai a chuva". Mas não (já citei, sempre cito alguém - até mesmo eu!). Também não quero contar pra mim mesmo, quando eu ler esse obituário de idéias daqui uns 10 anos, que estou triste sem saber por quê, que o ano começou numa festa estranha com gente esquisita e se não fosse a mesa de sinuca ia ser pior. Também não quero falar sobre esses meus conflitos internos que me fazem crer que sou o pior ser do universo - chego a ter certeza disso por alguns momentos. Mas ainda gosto de mim (taí mais um defeito e o carrossel torna a girar).
É foda, eu tinha coisas tão legais pra escrever, mas as férias, ao contrário do que acontece com as pessoas normais, não me fazem bem.
Outra coisa, é impressionante como agente se apega a certas coisas. Vi tantos filmes, mas foi o que eu já tinha visto que me falou mais alto, mais no fundo e de novo. Talvez por que os outros são medianos, nem lixo, nem clássicos. É o Fale com ela do Almodovar! Que filme belo! Que ótimas atuações e o que é o amor ali representado... Belo e triste, como uma canção de Jobim ou como a interpretação de Caetano cantando Cucurrucucu Paloma no filme.
Menções honrosas: A professora de piano é impressionante, que mulher - de perto ninguém é normal mesmo! Filme pesado, com uma trilha maravilhosa e uma história que faz pensar no amor e nas neuroses nossas de cada dia... Melhor é impossível é muito bom também! Sou fã do Senhor Jack, que ator brilhante!

Até hoje foram:

Volver
O Outro Lado da Rua
Exterminador do Futuro III
Adeus Lenin!
Tudo Sobre Minha Mãe
Cidade dos Sonhos
K-Pax
Casa de Areia
A missão
21 Gramas
A História Real
Os Suspeitos
Fale com ela
Melhor É Impossível
A Vila
O Código da Vinci
A Professora de Piano
Superman - O retorno
O Terminal
Lúcia e o Sexo
O Diabo a Quatro

Não era nada disso aí em cima, talvez isso:

07-10-1981

Foi o dia em que eu comecei a existir. Ou será que eu apenas voltei a existir?
É pior, foi o dia em que eu comecei a morrer.
As minhas asas eram novinhas, e mesmo sabendo que lenta e fatalmente se definhariam, nunca pararam de bater. E por isso, entre outras centenas de coisas, eu deveria estar sorrindo, satisfeito, comemorando, mas algo vem acontecendo desde que comecei a juntar meus pensamentos.
Não sei bem qual é o problema, mas a culpa deve ser do tempo. Esse comboio apressado que nunca cessa! Ele, com um braço hábil e sorrateiro, vem constantemente fixando a marteladas vivências em meu telencéfalo. Se eu me abato? Isso não é pergunta que se faça, no entanto todos sabem que a angustia é minha velha e cruel amiga. Se eu tenho esperança? Diga-me quem é que sincera e verdadeiramente não tem? Se estou correndo pra buscar a glória eterna? Entre Mutantes, teorias científicas, psicologias, Almodóvar e Pessoa, respondo: às vezes...