Escravos do Mundo Livre

Esteta ou Asceta? Nada disso, no fundo: Divagações de um pateta...

quarta-feira, 29 de novembro de 2006

O Feminino

Sempre tenho muitas idéias, mas de certa forma já estou condicionado a só escrevê-las se houver um computador por perto. Desde a minha quase morte na semana retrasada até hoje, aconteceram muitas coisas, e até nos meus delírios febris eu pensava em textos completos, artigos e crônicas, tudo editado e bonitinho (isso devia ser um dos delírios). Mas como não havia nenhum PC por perto, muito se perdeu.
Tentarei agora, num exercício de memória, recuperar alguns fragmentos.

Uma das coisas legais(!?) que ocorreram durante minha convalescença na segunda passada, foi uma experiência do Feminino que eu nunca havia experimentado.
Todos já tiveram sensações dessa "entidade" tão canonizada nos ultimos 100 anos, que é o Feminino. Seja numa sensação ao ter compaixão, seja nas lagrimas durante um filme, seja no contato direto com uma mulher e sua delicadesa grandiosa, seja num cozinhar prazeroso e sincero (olha o machismo), ou quando sobrevêm algo que nao sabemos por quê, mas definimos como uma manifestaçao do feminino.

Então meu povo! Durante uns cinco segundos, na tarde de segunda eu me senti uma verdadeira mulher. Foi assim:
Quando meu xará e colega de república saiu do banheiro e logo em seguida eu entrei, pois ia escovar os dentes e fazer um xixizinho para ir pra aula, qual nao foi minha surpresa ao olhar o acento da privada!?!?!? Estava lá, brilhando como ouro, uns respingos amarelados. Sim, era urina, justamente onde os bumbuns repousam para fazer cocô...
Pra não perder o flagrante, fui atrás dele e disse a célebre frase: Será que quando você for fazer xixi, dava por favor pra levantar a tampa da privada? Me senti uma mulher ao dizer isso! Talvez nem tanto pela frase em si, mas principalmente por que eu nunca havia dito isso pra ninguém, pelo contrário, já escutei bastante quando era criança, por isso aprendi. Como minha família sempre foi minha mãe e eu, nunca tinha proferido essas palavras e o seu ineditismo me transformou em uma mulher por 5 longos segundos!!!


Inspirado no no filme Alta Fidelidade, aí vao minhas listinhas:

Tô numa fase Bidê ou Balde (que coincidência com o post acima hein!?!). Tenho escutado direto, seu pop simplíssimo me faz sorrir sempre, e de quebra me lembro da Rapha!

1- Bidê ou Balde
2- Ed Motta (Cismei com Doce Ilusão, entre muitas outras)
3- Imago Mortis
4- Céu (Apaixonante)
5- Eu sou neguinha (com a Vanessa da Matta- grudou na cabeça!)

Inventos pra semana:
Máquina de Teletransporte - Pra aparecer na frente da Rapha, dizer, fazer e pensar tudo quanto possível e matar uma estranha saudade! Pra aparecer no RU, almoçar e reaparecer em casa, sem perder tempo!
Banheiro-que-se-limpa-Constante e Automaticamente - pra homens que moram em repúblicas!

sexta-feira, 17 de novembro de 2006

Testamento

Como ngn lê esse trem aki mesmo, e to perto do fim, ardendo por dentro e por fora, vou escrever minhas ultimas palavras:

Testamento

Acho q é febre, pode ser outra coisa, ñ sei. O q importa é q meu corpo ta pesado, eu to lento, quente pra caralho, com frio num calor insuportável....
Ah, como eu queria ter escrito o Testamento do Bandeira!!! Ou ter lido o do meu avô. Ñ, seria melhor conhecê-los. Nao to com pena de mim mesmo. Mas acho q ter conhecido meus avós, meu pai (nem tanto), o irmao q nunca tive, seria bom! Mas pra viver junto com eles, sempre perto, pelo menos nos tempos de eu menino. Em compensaçao tenho a melhor mae do mundo e ñ demonstro meu amor, tenho amigos q vivem comigo sem q eu consiga demonstrar o q sinto realmente por eles... Talvez essa seja a minha doença...

Poderia escrever horas, sobre tudo q sinto e q penso q ñ sinto, mas chega.
Eu uso muito "mas", acho q isso torna minha vida mais sem sentido ainda! Eterna contradiçao, mas...
...se eles soubessem o q eu quero descobrir...

Para mim mesmo e mais ngn!

segunda-feira, 13 de novembro de 2006

Os Ventos e o Quase-Eu

É triste saber que perdi o teatro, é triste saber que quilômetros me separam de algo que ainda não é meu. É triste não saber bem o que vou dizer e o que vou ouvir. Mas alegra-me a esperança renovada em cada breve palavra trocada...
Uma coisa é certa: Há ventos vindos do Sul que estao me lambendo a face e me paralizando a alma. Vazam por entre meus dedos, esfacelam-se diante de mim. Mas me inspiram, me sussurram algo, mesmo inaudível, mesmo distante...


O que é a vida?

Pergunta difícil para alguém que não vive, como eu.
Se essa pergunta fosse feita quando eu ainda era criança seria simples.
Eu já vivi, pois as crianças vivem.
Plenamente, vivem.
Quando ignoram, elas inventam
Quando dói, choram
Quando é bom, riem
Quando cansam, dormem

Eu não posso responder
Pois não sou mais criança
Há muito não sou criança
Há muito não vivo

Eu convivo
Convivo com a dor
Convivo com o prazer
Convivo com o alegria
Convivo com a tristeza
Convivo com tudo à margem, ao longe

Nada me preenche, nada me basta
Nada tem cabido dentro de mim
Cada dia mais oco
Cada dia mais longe
De algo definível

Não durmo, eu fecho os olhos
Eu não ando mais, eu vago
Eu não sou mais...
Esse é o não-eu
O triste fim do quase-eu.


Para a amiga (sobre)vivente Patrícia.
E acho que nem preciso dizer, não é...
Para (a amiga) Érika.

domingo, 5 de novembro de 2006

A Liberdade

Sinto que a Lua não gostou. Preciso diminuir meus arroubos poéticos ou melhora-los de verdade. Mas mudemos de assunto por hora...

Eu poderia falar sobre a mudança (a geográfica, que me arrancará de minha terra natal, ou da interna, que se processa no meu cérebro) e toda expectativa que ela causa, sobre a música que a Céu ta cantando agora aqui pra mim, ou sobre o meu amor pelos derivados do leite. No entanto, convidarei minha amiga Marilena Chaui pra falar sobre a Liberdade. Retirei de seu livro Convite à Filosofia, que to acabando de ler. Tem me gerado boas reflexões que agora compartilho com as milhares de pessoas que lêem esse hediondo folhetim.

A liberdade como problema

A torneira seca
(mas pior: a falta
de sede)
A luz apagada
(mas pior: o gosto
do escuro)
A porta fechada
(mas pior: a chave
por dentro).


Se nascemos numa sociedade que nos ensina certos valores morais - justiça, igualdade, veracidade, generosidade, coragem, amizade, direito à felicidade - e, no entanto, impede a concretização deles porque está organizada e estruturada de modo a impedi-los, o reconhecimento da contradição entre o ideal e a realidade é o primeiro momento da liberdade e da vida ética como recusa da violência. O segundo momento é a busca das brechas pelas quais possa passar o possível, isto é, uma outra sociedade que concretize no real aquilo que a nossa propõe no ideal.

Eis por que o poeta José Paulo Paes introduz o "mas o pior" em seu poema. De fato, a torneira está seca, mas o pior é não ter sede, isto é, não agir para que a água possa correr pela torneira. De fato, a luz está apagada, mas o pior é gostar do escuro, isto é, não agir para que a luz possa acender-se. De fato, a porta está trancada, mas o pior é saber que a chave está do lado de dentro e nada fazer para girá-la. O mundo já está constituído, escreve Merleau-Ponty – a torneira está seca, a luz apagada e a porta fechada. Porém, o mundo, prossegue o filósofo, não está completamente constituído, não está pronto e acabado, mas, como escreve Carlos Drummond, "o grande mundo está crescendo todo dia" pelo fogo e amor dos seres humanos e o pior seria renunciar a ele por estarmos nele.

O Meu Pecado

Descobri uma Deusa noite dessas
Desde então, vem adoçando minha boca
Toda noite, pouco antes de dormir

Sei que é neve, mas arde na minha cabeça
Feito mertiolate em machucadinho de criança
Sei que é fogo, mas me paralisa
Como um fóssil mudo nas geleiras secretas de Marte

Durmo com ela aqui do lado, aqui dentro mesmo
Me embala, me nina e me devora.
Carnívora!
Depois tudo apaga, no escuro tudo foge

Acordo só! Seria sonho? Seria delírio?
Mas ao abrir o primeiro olho do dia, o da esquerda se ñ me engano
A Lua está no céu. Como pode? – Todos em mim perguntam.
A noite se foi. É manhã. É dia, meu bom José!

Mas deuses não se revelam somente em orações
Eles conhecem o despertar sem preces de um guri despreocupado
O espreguiçar sem pressa numa cama ainda quente

E quando me levanto, a Deusa distante ainda é minha, só minha
Nunca saiu de mim, nem sairá
Pois como separar o combustível da combustão?

Então sem saber, subvertendo qualquer símbolo
Transfigurando significações ligeiramente
Volto a rezar baixinho:

Pecado meu é não acreditar
Que mais uma vez
O destino me arreganhou todos os dentes!

senhor F

Para a Lua distante.


Devo ter escrito numa terça ou segunda, não me lembro bem. Apaguei a luz e deitei, então no escuro, a aparição de uma deusa tomou forma! Imediato, estantâneo e espontâneo. Sei que não tá lá muito clara nem bem acabada, mas gostei. Então taí pra todos que me habitam se sentirem bem...