Escravos do Mundo Livre

Esteta ou Asceta? Nada disso, no fundo: Divagações de um pateta...

domingo, 5 de agosto de 2007

O Ser no escuro

abro os olhos no escuro
uma enorme mão vem em direção ao meu pescoço
o pavor do pecador é medido em seu peito
uma pressão abissal batiza de angústia o que não tem nome
no dia seguinte o sol brilhará mais lindo do que nunca
mas o que importa?
eu sofro é agora, é aqui, sozinha, é presa no que não compreendo
tento entender, mas é tão complicado
por que tem que ser assim?
por que tem que ser?
sentir é trair a realidade
sentir é mentir honestamente pra si mesmo


Stella Akiré em "Ser uma mulher no escuro"


por que Ela não acredita em mim?
por que elA acredita em coisas que nem sequer penso?

sábado, 4 de agosto de 2007

Tomar de novo

Retomando: “Não fazer a crítica de uma obra de ficção enquanto não souber exatamente o que o autor quer nos fazer experimentar”. (Adler em Como ler um livro)


É possível saber exatamente o que o autor quer nos fazer experimentar? Creio que não. O autor almeja muitas coisas e ao mesmo tempo a nada, pois sabe que o livro é do leitor. É esse último que, dará à narrativa um sentido. Claro que seguindo uma determinada coerência posta pelo escritor.

Assim sendo, creio que nesse bom livro de Chesterton, uma das interpretações possíveis, é a de que o autor critica o poder estabelecido. Os poderosos depois de brincarem de gato e rato, devidamente disfarçados, depois de experimentarem o lado anárquico, rebelde e contestador, voltam a sentarem nas cadeiras de pedras, de onde nunca saem. Faz-nos pensar que até o levante contra os poderosos é armado por eles mesmos, de modo que controlam absolutamente tudo no mundo. Assim a ordem não se altera, não existe oposição real, a não ser, na narrativa de Chesterton, a de um poeta de cabelos vermelhos desconsolado que é incapaz de ameaçar os poderosos.

Ao som de The Cure e Os Arrudas!

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

O homem que foi quinta-feira

Exercício 1

1- O homem que foi quinta-feira do escritor inglês Chesterton trata-se de uma obra de ficção, precisamente um romance.
2- Basicamente, o enredo versa sobre um conflito entre anarquistas e detetives da Scotland Yard. O poeta/policial Syme infiltra-se no Conselho Central Anarquista por acaso, e, a partir daí, na tentativa de impedir um atentado terrorista, descobre que os outros membros do conselho também são detetives infiltrados. Restando só o presidente, que é realmente o grande terrorista e ao mesmo tempo o chefão secreto da polícia que os admitiu como detetives. Esses vão perseguir o presidente para que uma explicação seja dada aos falsos policiais.
3- Primeira parte: Syme, um poeta que odiava o anarquismo por acaso se tornara um detetive do combate ao anarquismo. Um policial ao notar que ele levava jeito para tal função, leva-o para falar com o chefe da divisão anti-terrorismo de detetives filósofos da Scotland Yard. Esse, um homem misterioso, que só ficava no escuro para ter idéias claras, lhe deu o cargo de imediato.
Algum tempo depois, numa discussão o poeta de olhos azuis Syme, amante da ordem, afirma que o poeta de cabelos vermelhos Gregory, amante do caos, não leva a sério o anarquismo. Gregory sente-se ofendido e decide leva-lo a uma reunião da seção londrina do CCA para provar o quanto leva a sério seu anarquismo, mas antes, exige de Syme o juramento de que não contará nada à polícia. Entretanto, ao saber que Gregory é realmente um anarquista, pede que esse faça um juramento e lhe confia seu segredo: revela que também não é um mero poeta e sim um detetive da Scotland Yard. Numa das muitas situações incríveis que se repetirão durante a narrativa, o detetive que presencia a reunião secreta é eleito o Quinta-feira no lugar de Gregory que fica enfurecido, mas não pode revelar nada. Agora, também por acaso se torna um anarquista e vai direto para a reunião do CCA. É um Quinta-feira e se reúne com os outros seis membros, entre eles o grande e assustador presidente Domingo.
Segunda parte: A partir daí, na tentativa de impedir um atentado a bomba, descobre sucessivamente que cada membro do Conselho é um policial disfarçado que teve um encontro com o homem do escuro. O primeiro desmascarado foi o Terça-feira, que já na reunião foi descoberto pelo presidente Domingo. Ali Syme ficou assustadíssimo com a situação e pensou que ele seria o citado traidor. Mas não, e saindo dali, foi seguido implacavelmente pelo Professor de Worms, o Sexta-feira. Esse, ao final da caçada revelou, para espanto de Syme, que era também um policial infiltrado. Aliaram-se e descobriram na seqüência que os outros dias da semana também não eram anarquistas e sim detetives.
Terceira parte: Todos os detetives reunidos caçam o grande Domingo para saberem porquê foram enganados por ele desde o princípio. Um desfecho inesperado ocorre, onde o presidente os recebe numa festa à fantasia e revela que são uma irmandade que combate o mal através dos tempos.


Como primeiro exercício, eu paro por aqui dizendo que a obra tem vários momentos de clímax e por isso, depois dos primeiros, os últimos vão se tornando previsíveis. No entanto, é impressionante a forma como Chesterton domina a narrativa e prende a atenção do leitor com um suspense afiado, pelo menos até a metade do livro. Seu poder descritivo altamente poético é elemento marcante nessa obra, onde as frases de efeito e os diálogos mordazes são certamente daí copiados para os filmes de espiões e de ação “inteligentes”. Leitura prazerosa e envolvente, com reviravoltas surpreendentes, situações inusitadas e fantásticas. Inglaterra e França são o cenário onde desfilam detetives-filósofos e anarquistas poetas.
Pra lembrar-me: “Não fazer a crítica de uma obra de ficção enquanto não souber exatamente o que o autor quer nos fazer experimentar”. (Adler em Como ler um livro)